quinta-feira, 3 de novembro de 2011

AINDA SOU DO TEMPO: - DOMINGOS DE PÁSCOA





AINDA SOU DO TEMPO; -



DOMINGOS DE PÁSCOA



Domingo de Páscoa. 1958. Antes das 8 horas da manhã já se reunia a Banda Musical.

Aos Quatro Caminhos em Canidelo de Vila Nova de Gaia, começam a chegar os instrumentistas. Instrumentistas que, vinham de todos os lados, com os ditos cujos às costas ou debaixo do braço, a pé, ou de bicicleta, cada qual conforme lhe dava mais jeito. (Nesse tempo não havia com facilidade autocarro ou, a camioneta, como se chamava então. E, ninguém tinha carro, que, era o automóvel ou viatura própria, hoje usada, “useira e vezeiramente”. Se tanto, teria bicicleta a pedal quem fosse mais rico. Lembro-me de meu pai ter uma bicicleta e uma mota, primeiro uma “C.Z.” e depois uma “Java” e, por via disso, era, então, riquíssimo. Os filhos eram os meninos ricos e de boa família que, andavam sempre bem vestidinhos e muito bem arranjadinhos – e, por acaso era).

Conforme chegavam, os músicos, iam-se encostando à parede da casa do Manduca, (casa com mercearia do saudoso casal senhor Castro, pais do meu amigo de infância, o saudoso António Castro – o Toninho, conforme lhe chamávamos em criança -, jornalista do J.N., que muito recentemente e, tão cedo nos deixou. O tempo, ainda muito frio, obrigava a que cada um procurasse locais de abrigo. Outros músicos iam abrigar-se de encontro ao muro do chamado palacete do Edmundo (saudoso vizinho que também já nos deixou), casa que ainda lá existe e, tudo está conforme nessa altura. No canto contrário, onde se ergue hoje o edifício chamado do Espírito Santo, devido aos escritórios daquela empresa e, anteriormente a garagem dos autocarros se situar ali, era outro muro de vedação de terrenos e pinheiral, onde se ajuntavam outros elementos.

Pelas certíssimas oito horas a banda estava formada. À frente, de batuta em riste, o maestro aguardava o último segundo, para, num ápice, fazer no espaço livre à sua frente, virado bem para os céus, o movimento quaternário, para, no primeiro tempo imediato a banda iniciar a tocar. E, PUM, o enorme bombo do percussão deu a batida no exacto momento do maestro baixar a sua batuta, ao terminar aquele movimento no ar; o compasso quaternário.

A Banda inicia a tocar a sua bem ensaiada marcha, enquanto inicia também a descer a Rua do Meiral, o Paço como então os antigos denominavam. As pessoas assumem-se às janelas, às portas, à rua; amontoam-se para ver e ouvir a banda a passar. Como é bela e maravilhosa a banda a tocar; a festa, a alegria. As marchas continuadamente desfilam provocado pelo forte sopro que faz sair os sons daqueles imensos instrumentos. Os sons pairam no ar; bela é a melodia, forte é a sonância, altos são os timbres, baixos os contra-baixos. A caixa marca o compasso, o bombo a cadência. O passo é certo e marcado, o desfile é perfeito em filas de 5 bem alinhado. Já passou ao clube dos Chalados, à casa do Agostinho mariola, (mariola era por parte da família da mulher, a minha tia em segundo grau – Emília -, irmã do meu avô -, EU SOU UM MARIOLA).

A banda está a chegar à casa de família das mestras (ou do mariola, ou ainda, do rasga-a-manta, - antigamente assim chamavam ao meu avô); às janelas se empoleiram as crianças - os mais novos, - por trás, seguram-nos os mais velhos. À porta da rua vêm os anciãos. É célere a passar. Passou. Vai já a ultrapassar a casa do saudoso senhor André alfaiate, um pouco mais abaixo. Surge ao jardim do Meiral e continua. Desapareceu na curva. Os sons esvaem-se. Nas crianças surge a melancolia.      

Recuei da janela na casa das mestras. Tinha sete anos. Agora só para o ano. Todos os anos era igual.         



João da mestra, 26 de Outubro de 2011

majosilveiro


1 comentário:

  1. VIA MAIL
    de:
    Professor Fernandofernando@fema.pt
    para:
    MaJosilveiro
    data:20 de Novembro de 2011 17:40
    assunto:RE: E-mails
    Caro amigo Manuel Monteiro.

    Como aborda vários temas no seu blog,penso que, no início, deveria colocar um índice, pois facilitaria a procura.

    O que está a fazer é um grande contributo à sua terra Canidelo, pelo que os seus conterrâneos devem-lhe estar gratos. Continue.

    Grande abraço.

    Fernando Ferr

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