AINDA SOU DO TEMPO; -
DOMINGOS DE PÁSCOA
Domingo de Páscoa. 1958. Antes das 8 horas da manhã já se
reunia a Banda Musical.
Aos Quatro Caminhos em Canidelo de Vila Nova de Gaia, começam
a chegar os instrumentistas. Instrumentistas que, vinham de todos os lados, com
os ditos cujos às costas ou debaixo do braço, a pé, ou de bicicleta, cada qual
conforme lhe dava mais jeito. (Nesse tempo não havia com facilidade autocarro
ou, a camioneta, como se chamava então. E, ninguém tinha carro, que, era o
automóvel ou viatura própria, hoje usada, “useira e vezeiramente”. Se tanto,
teria bicicleta a pedal quem fosse mais rico. Lembro-me de meu pai ter uma
bicicleta e uma mota, primeiro uma “C.Z.” e depois uma “Java” e, por via disso,
era, então, riquíssimo. Os filhos eram os meninos ricos e de boa família que,
andavam sempre bem vestidinhos e muito bem arranjadinhos – e, por acaso era).
Conforme chegavam, os músicos, iam-se encostando à parede da
casa do Manduca, (casa com mercearia do saudoso casal senhor Castro, pais do
meu amigo de infância, o saudoso António Castro – o Toninho, conforme lhe
chamávamos em criança -, jornalista do J.N., que muito recentemente e, tão cedo
nos deixou. O tempo, ainda muito frio, obrigava a que cada um procurasse locais
de abrigo. Outros músicos iam abrigar-se de encontro ao muro do chamado
palacete do Edmundo (saudoso vizinho que também já nos deixou), casa que ainda
lá existe e, tudo está conforme nessa altura. No canto contrário, onde se ergue
hoje o edifício chamado do Espírito Santo, devido aos escritórios daquela
empresa e, anteriormente a garagem dos autocarros se situar ali, era outro muro
de vedação de terrenos e pinheiral, onde se ajuntavam outros elementos.
Pelas certíssimas oito horas a banda estava formada. À
frente, de batuta em riste, o maestro aguardava o último segundo, para, num
ápice, fazer no espaço livre à sua frente, virado bem para os céus, o movimento
quaternário, para, no primeiro tempo imediato a banda iniciar a tocar. E, PUM,
o enorme bombo do percussão deu a batida no exacto momento do maestro baixar a
sua batuta, ao terminar aquele movimento no ar; o compasso quaternário.
A Banda inicia a tocar a sua bem ensaiada marcha, enquanto
inicia também a descer a Rua do Meiral, o Paço como então os antigos
denominavam. As pessoas assumem-se às janelas, às portas, à rua; amontoam-se
para ver e ouvir a banda a passar. Como é bela e maravilhosa a banda a tocar; a
festa, a alegria. As marchas continuadamente desfilam provocado pelo forte
sopro que faz sair os sons daqueles imensos instrumentos. Os sons pairam no ar;
bela é a melodia, forte é a sonância, altos são os timbres, baixos os contra-baixos.
A caixa marca o compasso, o bombo a cadência. O passo é certo e marcado, o
desfile é perfeito em filas de 5 bem alinhado. Já passou ao clube dos Chalados,
à casa do Agostinho mariola, (mariola era por parte da família da mulher, a
minha tia em segundo grau – Emília -, irmã do meu avô -, EU SOU UM MARIOLA).
A banda está a chegar à casa de família das mestras (ou do
mariola, ou ainda, do rasga-a-manta, - antigamente assim chamavam ao meu avô);
às janelas se empoleiram as crianças - os mais novos, - por trás, seguram-nos
os mais velhos. À porta da rua vêm os anciãos. É célere a passar. Passou. Vai
já a ultrapassar a casa do saudoso senhor André alfaiate, um pouco mais abaixo.
Surge ao jardim do Meiral e continua. Desapareceu na curva. Os sons esvaem-se.
Nas crianças surge a melancolia.
Recuei da janela na casa das mestras. Tinha sete anos. Agora
só para o ano. Todos os anos era igual.
João da mestra, 26 de Outubro de 2011
majosilveiro
VIA MAIL
ResponderEliminarde:
Professor Fernandofernando@fema.pt
para:
MaJosilveiro
data:20 de Novembro de 2011 17:40
assunto:RE: E-mails
Caro amigo Manuel Monteiro.
Como aborda vários temas no seu blog,penso que, no início, deveria colocar um índice, pois facilitaria a procura.
O que está a fazer é um grande contributo à sua terra Canidelo, pelo que os seus conterrâneos devem-lhe estar gratos. Continue.
Grande abraço.
Fernando Ferr